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Regulação e Crise Financeira

Prof. André Scherer


Tendências do Debate em Economia
FACE/PUCRS - 28/11/2010
Regulação Econômica
• Visão Ortodoxa: os mercados funcionam
perfeitamente, mas...
• a) apresentam externalidades negativas;
• b) existem assimetrias de informações.

• Visão Heterodoxa: o imperativo de valorização


do capital leva a “desequilíbrios” crescentes.
A Regulação Financeira é ainda mais
facilmente justificável
• Sistema financeiro é uma infra-estrutura
essencial para o funcionamento da economia;
• Instituições financeiras possuem estratégias
ativas de valorização do capital sob incerteza
radical;
• Instituições financeiras se encontram em
concorrência intra-industrial e inter-industrial;
• Esta lógica leva à toma excessiva de risco e à
inovação financeira constante.
Características da Globalização
Financeira exacerbam o problema
• Surgimento de instituições financeiras não-
bancárias que colocam risco sistêmico por sua
magnitude e interconexão;
• Criação de instituições não-bancárias que
funcionam como bancos (descasamento das
maturidades) sem regulamentação (shadow
banking system);
• Surgimento de mercados complexos
envolvendo derivativos e securitização.
Lógicas da Regulação Financeira
• A) Prudencial: incide sobre a estratégia da
instituição de modo a evitar um comportamento
nocivo quanto ao risco e reduzir as chances de
perda dos aplicadores;

• B) Sistêmica: incide sobre a possibilidade de uma


instituição afetar negativamente as demais (o
custo social da falência excede os custos
privados). O tamanho e a interconexão da
instituição são fatores-chave.
Regulação do Sistema Financeiro na
Globalização (pré-crise)
• Crença no bom funcionamento da auto-
regulação;
• Desregulamentação permite a criação de
“supermercados financeiros” grandes e
interconectados;
• Papel central das agências de notação;
• Crença nas inovações financeiras e nos
modelos de avaliação internos enquanto
elementos efetivos de controle do risco.
Crise e Desregulamentação Financeira
• Existência de arbitragem regulatória (EUA);
• Instituições financeiras too big to fail;
• Elevada alavancagem;
• Mercados interligados;
• Mercados sem transparência;
• Incentivo ao risco excessivo (governança
corporativa no setor financeiro);
• Regulação permissiva e pró-ciclíca.
Bancos maiores que países...
Aportes aos Fundos Hedge -2005
A Nova Regulação Norte-Americana
• A amplitude da crise financeira e seu custo
social, econômico e fiscal reduziram as
resistências à re-regulamentação do sistema
financeiro nos EUA;
• Isso se concretizou nas 2.200 páginas da
Dodd-Frank Wall Street Reform and Consumer
Protection Act (21 de julho de 2010);
• Considerada a maior modificação regulatória
após a década de 1930.
A Reforma de Wall Street
1) Identificação do Risco Sistêmico:
- cria o Systemic Risk Council, com a missão
de identificar instituições financeiras
bancárisa e não-bancárias que colocam em
risco o sistema;
- cria uma instituição subordinada ao
Tesouro para coletar, analisar e disseminar
informações capazes de antecipar futuras
crises.
A Reforma de Wall Street
2) Instituições too-big-to-fail:
- criação de sistema que ordena a liquidação de
instituições capazes de colocar o sistema em
risco;
- reparte o custo da liquidação entre acionistas e
credores;
- em caso de prejuízos remanescentes, cria uma
taxação sobre as demais instituições
sistemicamentes relevantes ;
- exige a substituição da gerencia da instituição
falida.
A Reforma de Wall Street
3) Aumenta a responsabilidade e a autoridade
do Fed:
- permite a supervisão de qualquer instituição
não-bancária considerada sistemicamente
relevante.
4) Restrição de intervenções governamentais
discricionárias:
- restringe a possibilidade de ajudas
governamentais para resgate de instituições.
A Reforma de Wall Street
5) Volcker Rule (Glass Steagall redux)
- limita a utilização de recursos próprios dos
bancos comerciais em operações típicas de
bancos de investimento;
- restringe a participação dos bancos em
operações envolvendo fundos hedge e fundos
private equity;
- proíbe o resgate das instituições não-
bancárias pelos bancos.
A Reforma de Wall Street
6) Regulação das transações com derivativos:
- cria uma central de compensação para as
operações com derivativos padronizados;
- regula derivativos complexos;
- exige transparência em posições assumidas
em contratos “exóticos’;
- não estabelece regras para derivativos
envolvendo hedges comerciais.
A Reforma de Wall Street
7) Introduz ainda inúmeras regras envolvendo
concessão de hipotecas, transparência nos
fundos hedge, agências de notação,
distribuição de títulos securitizados, controle
de risco em fundos monetários, controle do
pagamento de executivos.
8) Cria a agência de proteção ao consumidor de
serviços financeiros (Bureau of Consumer
Financial Protection)
Basiléia III
• Objetivos:

– aumentar a resiliência do sistema financeiros aos


choque financeiros ou reais;
– melhorar a gerência dos riscos;
– Aumentar a transparência quanto aos riscos
assumidos.
Basiléia III
• Ações:
– Novas definições mais restritivas quanto à
qualidade do capital próprio dos bancos e
elevação do coeficiente exigido;
– Novas definições mais restritivas quanto às
medidas de liquidez dos bancos;
– Redução da “próciclicalidade” característica de
Basiléia II a partir da constituição de fundos nos
bons tempos para serem usados nas crises.
União Europeia
1) Artigo 122 a:
- O artigo 122 a trata-se de uma emenda à
European Capital Requirements Directive que
obriga às instituições de crédito europeia a
conhecerem detalhadamente o conteúdo dos
títulos securitizados que comprarem;
- Trata-se de um desafio europeu às normas
norte-americanas pois somente poderão vender
títulos aos europeus instituições que aceitarem
graus mais elevados de transparência.
União Europeia
2) Regras para os fundos hedge e private equity:
- maior transparência exigida dos gestores
dos fundos;
- regras mínimas comuns para depósitos,
resgate e pagamento do serviço;
- unifica o mercado europeu e substitui as
legislações nacionais;
- aberto para fundos não-europeus, com
compromissos adicionais.
Avaliação Preliminar das Reformas
Propostas
• Reformas não estruturais; exs: problema
sistêmico colocado pelos grandes bancos; não
separa bancos comerciais de bancos de
investimento; não cria entidades separadas para
a negociação de derivativos; não elimina a
arbitragem regulatória;
• Não inverte incentivos à tomada excessiva de
risco, tenta controlá-los;
• Não regula suficientemente derivativos de
balcão, em especial os Credit Default Swaps;
Avaliação Preliminar das Reformas
Propostas
• De qualquer modo, é um avanço frente ao
quadro pré-existente;
• A crise financeira encontra-se em pleno processo,
sem perspectiva de fim, o que dificulta a tomada
de medidas mais duras sob pena de elevar seus
custos para os Estados;
• Reformas “meia-boca”, altamente complexas e
de difícil supervisão correm o risco de criar
oportunidades de arbitragem ou virar “letra
morta”.

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