Tendências do Debate em Economia FACE/PUCRS - 28/11/2010 Regulação Econômica • Visão Ortodoxa: os mercados funcionam perfeitamente, mas... • a) apresentam externalidades negativas; • b) existem assimetrias de informações.
• Visão Heterodoxa: o imperativo de valorização
do capital leva a “desequilíbrios” crescentes. A Regulação Financeira é ainda mais facilmente justificável • Sistema financeiro é uma infra-estrutura essencial para o funcionamento da economia; • Instituições financeiras possuem estratégias ativas de valorização do capital sob incerteza radical; • Instituições financeiras se encontram em concorrência intra-industrial e inter-industrial; • Esta lógica leva à toma excessiva de risco e à inovação financeira constante. Características da Globalização Financeira exacerbam o problema • Surgimento de instituições financeiras não- bancárias que colocam risco sistêmico por sua magnitude e interconexão; • Criação de instituições não-bancárias que funcionam como bancos (descasamento das maturidades) sem regulamentação (shadow banking system); • Surgimento de mercados complexos envolvendo derivativos e securitização. Lógicas da Regulação Financeira • A) Prudencial: incide sobre a estratégia da instituição de modo a evitar um comportamento nocivo quanto ao risco e reduzir as chances de perda dos aplicadores;
• B) Sistêmica: incide sobre a possibilidade de uma
instituição afetar negativamente as demais (o custo social da falência excede os custos privados). O tamanho e a interconexão da instituição são fatores-chave. Regulação do Sistema Financeiro na Globalização (pré-crise) • Crença no bom funcionamento da auto- regulação; • Desregulamentação permite a criação de “supermercados financeiros” grandes e interconectados; • Papel central das agências de notação; • Crença nas inovações financeiras e nos modelos de avaliação internos enquanto elementos efetivos de controle do risco. Crise e Desregulamentação Financeira • Existência de arbitragem regulatória (EUA); • Instituições financeiras too big to fail; • Elevada alavancagem; • Mercados interligados; • Mercados sem transparência; • Incentivo ao risco excessivo (governança corporativa no setor financeiro); • Regulação permissiva e pró-ciclíca. Bancos maiores que países... Aportes aos Fundos Hedge -2005 A Nova Regulação Norte-Americana • A amplitude da crise financeira e seu custo social, econômico e fiscal reduziram as resistências à re-regulamentação do sistema financeiro nos EUA; • Isso se concretizou nas 2.200 páginas da Dodd-Frank Wall Street Reform and Consumer Protection Act (21 de julho de 2010); • Considerada a maior modificação regulatória após a década de 1930. A Reforma de Wall Street 1) Identificação do Risco Sistêmico: - cria o Systemic Risk Council, com a missão de identificar instituições financeiras bancárisa e não-bancárias que colocam em risco o sistema; - cria uma instituição subordinada ao Tesouro para coletar, analisar e disseminar informações capazes de antecipar futuras crises. A Reforma de Wall Street 2) Instituições too-big-to-fail: - criação de sistema que ordena a liquidação de instituições capazes de colocar o sistema em risco; - reparte o custo da liquidação entre acionistas e credores; - em caso de prejuízos remanescentes, cria uma taxação sobre as demais instituições sistemicamentes relevantes ; - exige a substituição da gerencia da instituição falida. A Reforma de Wall Street 3) Aumenta a responsabilidade e a autoridade do Fed: - permite a supervisão de qualquer instituição não-bancária considerada sistemicamente relevante. 4) Restrição de intervenções governamentais discricionárias: - restringe a possibilidade de ajudas governamentais para resgate de instituições. A Reforma de Wall Street 5) Volcker Rule (Glass Steagall redux) - limita a utilização de recursos próprios dos bancos comerciais em operações típicas de bancos de investimento; - restringe a participação dos bancos em operações envolvendo fundos hedge e fundos private equity; - proíbe o resgate das instituições não- bancárias pelos bancos. A Reforma de Wall Street 6) Regulação das transações com derivativos: - cria uma central de compensação para as operações com derivativos padronizados; - regula derivativos complexos; - exige transparência em posições assumidas em contratos “exóticos’; - não estabelece regras para derivativos envolvendo hedges comerciais. A Reforma de Wall Street 7) Introduz ainda inúmeras regras envolvendo concessão de hipotecas, transparência nos fundos hedge, agências de notação, distribuição de títulos securitizados, controle de risco em fundos monetários, controle do pagamento de executivos. 8) Cria a agência de proteção ao consumidor de serviços financeiros (Bureau of Consumer Financial Protection) Basiléia III • Objetivos:
– aumentar a resiliência do sistema financeiros aos
choque financeiros ou reais; – melhorar a gerência dos riscos; – Aumentar a transparência quanto aos riscos assumidos. Basiléia III • Ações: – Novas definições mais restritivas quanto à qualidade do capital próprio dos bancos e elevação do coeficiente exigido; – Novas definições mais restritivas quanto às medidas de liquidez dos bancos; – Redução da “próciclicalidade” característica de Basiléia II a partir da constituição de fundos nos bons tempos para serem usados nas crises. União Europeia 1) Artigo 122 a: - O artigo 122 a trata-se de uma emenda à European Capital Requirements Directive que obriga às instituições de crédito europeia a conhecerem detalhadamente o conteúdo dos títulos securitizados que comprarem; - Trata-se de um desafio europeu às normas norte-americanas pois somente poderão vender títulos aos europeus instituições que aceitarem graus mais elevados de transparência. União Europeia 2) Regras para os fundos hedge e private equity: - maior transparência exigida dos gestores dos fundos; - regras mínimas comuns para depósitos, resgate e pagamento do serviço; - unifica o mercado europeu e substitui as legislações nacionais; - aberto para fundos não-europeus, com compromissos adicionais. Avaliação Preliminar das Reformas Propostas • Reformas não estruturais; exs: problema sistêmico colocado pelos grandes bancos; não separa bancos comerciais de bancos de investimento; não cria entidades separadas para a negociação de derivativos; não elimina a arbitragem regulatória; • Não inverte incentivos à tomada excessiva de risco, tenta controlá-los; • Não regula suficientemente derivativos de balcão, em especial os Credit Default Swaps; Avaliação Preliminar das Reformas Propostas • De qualquer modo, é um avanço frente ao quadro pré-existente; • A crise financeira encontra-se em pleno processo, sem perspectiva de fim, o que dificulta a tomada de medidas mais duras sob pena de elevar seus custos para os Estados; • Reformas “meia-boca”, altamente complexas e de difícil supervisão correm o risco de criar oportunidades de arbitragem ou virar “letra morta”.