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O PAPEL E A INTERVENÇÃO DA

ESCOLA EM SITUAÇÕES DE
CONFLITO PARENTAL
CONTEÚDO DAS RESPONSABILIDADES
PARENTAIS
Compete aos pais, no interesse dos filhos,
dirigir a sua educação e, de acordo com as
suas possibilidades, promover o seu
desenvolvimento físico, intelectual e moral
daqueles, proporcionando-lhes, em
especial aos diminuídos física e
mentalmente, adequada instrução geral e
profissional, correspondente, na medida
do possível, às aptidões e inclinações de
cada um (artigos 1878.º, n.º 1 e 1885.º,
ambos do Código Civil).
DEVERES DOS PAIS
Incumbe aos pais uma especial
responsabilidade, inerente ao seu
poder dever de dirigirem a
educação dos filhos e educandos,
no interesse destes, e de
promoverem activamente o
desenvolvimento físico, intelectual
e moral dos mesmos (artigo 6.º, n.º
1 do Estatuto do Aluno)
A FIGURA DO ENCARREGADO DE
EDUCAÇÃO
O encarregado de educação é a
mãe, o pai ou qualquer pessoa
que acompanha o aluno e é
responsável pelo aproveitamento
de uma criança ou adolescente
menor de idade (Dicionário da
Língua Portuguesa
Contemporânea)
DEFINIÇÃO LEGAL DE ENCARREGADO DE
EDUCAÇÃO

O encarregado de educação é aquele


que tenha menores à sua guarda pelo
exercício das responsabilidades
parentais, por decisão judicial, pelo
exercício de funções executivas na
direcção de instituições que tenham
menores, por qualquer título, à sua
responsabilidade ou por delegação,
devidamente comprovada, por parte de
qualquer das entidades referidas (n.º 1.2
do Despacho n.º 14026/2007,
rectificado pela Declaração n.º
1258/2007 e alterado pelo Despacho
n.º 13170/2009).
O DESACORDO DOS PAIS E A
INTERVENÇÃO JUDICIAL
Da indicação de encarregado de educação
perante a escola resulta apenas que o
progenitor indicado é, por acordo expresso ou
presumido entre ambos, o interlocutor
privilegiado entre a escola e a família, seja por
dispor de maior disponibilidade para o efeito,
por ter maior sensibilidade para o
acompanhamento da vida escolar do filho,
presumindo-se, até qualquer indicação ou
suspeita do contrário que, qualquer acto que
pratica relativamente ao percurso escolar do
filho, é realizado por decisão conjunta com o
outro progenitor.
O DESACORDO DOS PAIS E A
INTERVENÇÃO JUDICIAL
Se a escola vier, por qualquer meio, a saber ou
suspeitar seriamente que deixou de existir esse
acordo entre ambos quanto às decisões que
afectam a vida do filho e essa falta de acordo
se traduzir uma situação de perigo para o
equilíbrio ou situação emocional da criança ou
do jovem (que a escola não consiga ultrapassar
junto dos pais), deverá abster-se de intervir,
comunicando a situação à Comissão de
Protecção de Crianças e Jovens em Perigo.
Isso não invalida que, não se tratando de acto
ou questão de particular importância, não deva
proceder de acordo com a indicação dada pelo
progenitor que foi indicado como encarregado
de educação (se for este o progenitor residente).
ACTOS OU QUESTÕES DE PARTICULAR
IMPORTÂNCIA NA VIDA ESCOLAR
- Decisão sobre a orientação profissional
da criança ou jovem ou sobre a questão
de saber se este deve ou não prosseguir
os estudos ou arranjar um emprego antes
de atingir a maioridade;
- Decisão sobre a mudança de escola
privada para escola pública e vice-versa
ou qualquer outra mudança escolar que
tenha consequências relevantes na
educação do filho menor;
- Decisões envolvendo problemas sérios
de disciplina relativos ao menor.
ACTOS OU QUESTÕES DE PARTICULAR
IMPORTÂNCIA NA VIDA ESCOLAR
Existe uma “zona cinzenta” ….
- A decisão sobre a participação numa
visita de estudo por uma criança ou
jovem de saúde débil;
- A decisão sobre a participação numa
viagem ao estrangeiro promovida pelo
estabelecimento de ensino;
- A decisão sobre a participação em
actividades formativas que, por razões
fundamentadas, um dos pais considere
ter impacto negativo na vida do filho …
EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES
PARENTAIS EM CASO DE DIVÓRCIO OU
SEPARAÇÃO
Com a Lei n.º 61/2008, de 31 de
Outubro, as responsabilidades parentais
relativas às questões de particular
importância passaram a ser exercidas em
conjunto por ambos os progenitores em
caso de divórcio ou de separação e seja
qual for a relação que se tenha
estabelecido entre os pais (relação
conjugal, relação marital ou mesmo pais
que nunca tenham vivido juntos).
EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES
PARENTAIS EM CASO DE DIVÓRCIO OU
SEPARAÇÃO
Só assim não será se o exercício conjunto das
responsabilidades parentais for julgado contrário
aos interesses do filho e por decisão judicial
fundamentada (artigo 1906.º, n.º 2 do Código
Civil).
Neste caso, o exercício das responsabilidades
parentais é apenas exercido por um dos
progenitores.
Contudo, o progenitor que não exerça as
responsabilidades parentais tem o direito de ser
informado sobre o modo de exercício destas,
designadamente sobre a educação e o modo de
vida do filho.
EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES
PARENTAIS EM CASO DE DIVÓRCIO OU
SEPARAÇÃO
O exercício das responsabilidades
parentais relativas aos actos da vida
corrente do filho cabe ao progenitor com
quem ele reside habitualmente ou ao
progenitor com quem o filho se encontra
temporariamente; porém, este último, não
deve contrariar as orientações educativas
mais relevantes, tal como elas são
definidas pelo progenitor com quem o filho
resida habitualmente.
EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES
PARENTAIS EM CASO DE DIVÓRCIO OU
SEPARAÇÃO
A definição das orientações
educativas mais relevantes
pelo progenitor com quem o
menor reside (e que
habitualmente será o
encarregado de educação)
também pode ser factor de
conflito envolvendo a escola.
EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES
PARENTAIS EM CASO DE DIVÓRCIO OU
SEPARAÇÃO
É o progenitor com quem o menor reside
habitualmente que transmite a este os valores,
os princípios e as regras que lhe permitem
estruturar a personalidade e modelar
comportamentos, normalmente relacionadas
com a sua vida escolar e extracurricular.
Assim, o outro progenitor não deve alterar de
forma substancial ou relevante os hábitos, os
comportamentos, as actividades escolares, a
disciplina que é incutida ao filho menor ou
dizendo de outra maneira, é importante que a
criança sinta que os progenitores actuam e
educam em conjunto e que um não desautoriza
o outro nas áreas da instrução e da formação
humana cívica, ética e de desenvolvimento da
personalidade.
DEVER DE INFORMAÇÃO DO ENCARREGADO DE
EDUCAÇÃO VS EXERCÍCIO DAS
RESPONSABILIDADES PARENTAIS

É difícil compatibilizar o dever de


informação do encarregado de educação
(normalmente uma única pessoa ou
interlocutor com a escola) e o dever de
informação que assiste ao progenitor com
quem o menor não reside ou a quem não
foi confiado o exercício das
responsabilidades parentais.
DEVER DE INFORMAÇÃO DO ENCARREGADO DE
EDUCAÇÃO VS EXERCÍCIO DAS
RESPONSABILIDADES PARENTAIS

Existindo um dever legal de informação


do progenitor com quem o aluno menor
não resida ou a quem não tenha sido
confiado e não sendo esse que,
normalmente, exerce as funções de
encarregado de educação, não podem as
escolas adoptar qualquer procedimento
que impossibilite aquele de obter
informações sobre o rendimento escolar
dos filhos, mesmo em situações de
conflito parental grave.
ALGUMAS CONCLUSÕES
1.º - No acto da matrícula ou em
momento posterior, se existirem
suspeitas de que pode existir um conflito
parental entre os progenitores que
envolva a obtenção de informações
escolares ou a entrega a terceiros da
criança ou do jovem, será conveniente
apurar como se encontra regulado o
exercício das responsabilidades
parentais, designadamente para avaliar
situações de entregas ou restrições que
tenham sido impostas por um dos
progenitores e que tenham (ou não)
expressão na decisão judicial.
ALGUMAS CONCLUSÕES
2.º - O progenitor com quem a criança ou
jovem não reside ou a quem não tenha
sido confiado não pode tomar decisões
relevantes sobre a vida escolar do filho
que não se insiram no conceito de
questões de particular importância nem
pode contrariar as orientações educativas
mais relevantes onde, normalmente, se
insere a grande maioria dos actos (da
vida corrente) que integram a vida escolar
do filho – o que implica que a escola não
pode servir de bloqueio às decisões que
sejam tomadas pelo progenitor residente
(ainda que este não seja o encarregado
de educação).
ALGUMAS CONCLUSÕES

3.º - As informações sobre a


frequência e assiduidade da criança
ou do jovem aluno devem continuar
a ser prestadas ao progenitor que
seja indicado no acto da matrícula
como encarregado de educação
(normalmente o progenitor com
quem aquele reside ou que tem o
exercício exclusivo das
responsabilidades parentais).
ALGUMAS CONCLUSÕES

4.º - Caso seja solicitada


informação sobre a assiduidade,
comportamento e o aproveitamento
escolar da criança ou jovem pelo
progenitor que não foi indicado
como encarregado de educação (e
que pode não ser o progenitor
convivente ou residente), deve essa
informação ser igualmente
prestada.
ALGUMAS CONCLUSÕES

5.º - Apesar de não ser obrigatória a


convocatória do progenitor não
residente pelo estabelecimento de
ensino às reuniões de pais, não
existe qualquer objecção a que este
possa estar presente nessas
reuniões onde sejam prestadas as
informações sobre a vida escolar do
filho, satisfazendo-se assim o dever
legal de informação que lhe é
conferido.
ALGUMAS CONCLUSÕES
6.º - Caso sejam verificadas pelo estabelecimento
de ensino situações de discussão entre os
progenitores, entre estes e os filhos, no recinto
escolar ou nas suas imediações, por questões
relacionadas com o exercício das
responsabilidades parentais, que o
estabelecimento de ensino não consiga ou não
possa resolver, deve a direcção deste comunicar a
situação à Comissão de Protecção de Crianças e
Jovens em Perigo territorialmente competente
pois pode estar em causa a existência de perigo
para o equilíbrio emocional ou saúde da criança
ou jovem (artigo 4.º da Lei de Promoção e
Protecção).
ALGUMAS CONCLUSÕES

7.º - Não havendo acordo ou decisão de


regulação do exercício das
responsabilidades parentais que possa
estabelecer regras especiais, este
conjunto de orientações aplica-se a todas
as situações de separação dos
progenitores da criança ou jovem,
independentemente da relação que se
tenha estabelecido entre aqueles antes
da separação (relação conjugal, relação
marital ou a inexistência de qualquer
relação de convivência).

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