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Gestão de

riscos urbanos
VEYRET, Yvette (org.). Os riscos: o homem como agressor e vítima
do meio ambiente. São Paulo: Contexto, 2007

“O risco, objeto social, define-se como a


percepção do perigo, da catástrofe possível.

Ele existe apenas em relação a um indivíduo e a


um grupo social ou profissional, uma
comunidade, uma sociedade que o apreende
por meio de representações mentais e com ele
convive por meio de práticas específicas”
VEYRET, Yvette (org.). Os riscos: o homem como agressor e vítima
do meio ambiente. São Paulo: Contexto, 2007

“Não há risco sem uma população ou indivíduo


que o perceba e que poderia sofrer seus efeitos.

Correm-se riscos, que são assumidos, recusados,


estimados, avaliados, calculados.
O risco é a tradução de uma ameaça, de um
perigo para aquele que está sujeito a ele e o
percebe como tal”

O risco de acidentes
associados a
escorregamentos e
processos correlatos é um
“fenômeno” do ambiente
urbano brasileiro dos
últimos vinte anos
Grandes acidentes do passado
LOCAL DATA N.º DE MORTES

Santos (SP) Março de 1928 80

Vale do Paraíba do Dezembro de 1948 250


Sul(MG/RJ)
Santos (SP) Março de 1956 64

Rio de Janeiro (RJ) 1966 100

Caraguatatuba (SP) Março de 1967 120 (?)

Serra das Araras/ Rio Janeiro de 1967 1700


de Janeiro (RJ)
Santos (SP) Dezembro de 1979 13
Grandes acidentes do passado
LOCAL DATA N.º DE MORTES

São Paulo (SP) Junho de 1983 8


Salvador (BA) Abril de 1984 17
Rio de Janeiro (RJ) Março de 1985 23
Salvador (BA) Abril de 1985 35
Vitória (ES) 1985 93
Rio de Janeiro (RJ) Fevereiro de 1988 82
Petrópolis (RJ) Fevereiro de 1988 171
Salvador (BA) Maio de 1989 67
Recife (PE) Junho-Julho de 15
1990
Grandes acidentes do passado
LOCAL DATA N.º DE MORTES

Blumenau (SC) Outubro de 1990 14

Contagem (MG) Março de 1992 36

Salvador (BA) Junho de 1995 58

Rio de Janeiro (RJ) Fevereiro de 1996 59

Recife (PE) Abril de 1996 42

Ouro Preto (MG) Janeiro de 1997 13

Campos de Jordão Janeiro de 2000 10


(SP)
São Paulo (SP) Fevereiro de 2000 13

Estado do Rio de Dezembro de 65


Janeiro 2001/janeiro de
2002
VEYRET, Yvette (org.). Os riscos: o homem como agressor e vítima
do meio ambiente. São Paulo: Contexto, 2007

• “ a crise ou a catástrofe deve ser


gerenciada na urgência pelos serviços de
socorro, no contexto de planos definidos
de antemão, ao passo que o risco exige
ser integrado às escolhas de gestão e às
políticas de organização dos territórios.”
O que despertou a “percepção” do risco?

• Constituição Federal de 1988 - novas


atribuições e reordenamentos da gestão nos
níveis estaduais e municipais
• Importantes contribuições do meio técnico-
científico para o melhor entendimento do
ambiente físico e das interferências antrópicas
na revisão e elaboração das Constituições
Estaduais, Leis Orgânicas Municipais e Planos
Diretores
O que despertou a “percepção” do risco?

• A emergência ou explicitação da “crise urbana”


• A ocorrência de grandes e/ou frequentes
acidentes e sua inclusão no conjunto de
problemas da “crise urbana”
• A associação dos acidentes à precariedade (de
planejamento urbanístico, de infra-estrutura
básica, de serviços públicos) e à exclusão social
e espacial dos ambientes onde ocorrem estes
acidentes
O que despertou a “percepção” do risco?

Experiências pioneiras e localizadas de gestão de risco


urbano associado a escorregamentos

IPT-IG- Plano Preventivo de Defesa Civil para Cubatão,


Baixada Santista e Litoral Norte (MACEDO et al., 1999)
GEO-RIO – Cartografia de risco / Alerta Rio/ Obras
(AMARAL, 1996)
Recife – “ação integrada contra riscos geológicos em
morros urbanos” (GUSMÃO FILHO, 1995; ALHEIROS,
1998)
Belo Horizonte – Plano Estrutural de Áreas de Risco
(CARVALHO, 1996; URBEL)
O que despertou a “percepção” do risco?

Experiências pioneiras e localizadas de gestão de


risco urbano associado a escorregamentos:
• Grupo de Morros – Administração Regional dos
Morros de Santos (NOGUEIRA, 2002)
• Mapeamento de riscos das favelas em SP
(CERRI & CARVALHO , 1990)
• Plano Integrado de Engenharia Ambiental em
Juiz de Fora, MG (MATTES et al., 1986)
O que despertou a “percepção” do risco?

Década Internacional de Redução de Desastres Naturais –


DIRDN

1. Conhecimento (identificação e análise) dos riscos


2.Planejamento e implementação de intervenções para
redução dos riscos identificados
3. Monitoramento permanente e prevenção de acidentes,
especialmente nos períodos chuvosos
4. Informação pública e capacitação para prevenção e
autodefesa
O Estatuto da Cidade
Lei federal n. º 10.257, de 10 de julho de 2001

“I - Garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o


direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-
estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho
e ao lazer, para as presentes e futuras gerações;
IV. Planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição
espacial da população e das atividades econômicas do município e
do território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir
as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre
o meio ambiente;
VI. Ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar (...) a
poluição e a degradação ambiental.
XIV. Regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por
população de baixa renda mediante o estabelecimento de normas
especiais de urbanização, uso e ocupação do solo e edificação,
consideradas a situação socioeconômica da população e as
normas ambientais; (...)
Ministério das Cidades-
2003

Programa de Urbanização, Regularização e


Integração de Assentamentos Precários

Ação de Apoio à Prevenção


e Erradicação de Riscos em
Assentamentos Precários.
Ação de apoio a programas municipais de
redução e erradicação de riscos- MCidades
• Planos municipais de redução de riscos
(PMRR)

• Projetos de obras de contenção de


encosta

• Capacitação de equipes municipais


PMRR
• identificação e análise de riscos;

• o levantamento e análise da legislação urbana e


ambiental incidente sobre as áreas estudadas e suas
conseqüências nas propostas para redução dos riscos;

• a proposição de intervenções estruturais para redução


dos riscos identificados;

• a estimativa de custos para cada uma das intervenções


estruturais indicadas;

• a proposição de uma escala de prioridades para tais


intervenções
PMRR
• a proposição de ações não estruturais para o
gerenciamento dos riscos
identificados;
• a identificação de fontes de recursos potenciais
e de projetos compatíveis para implantação das
intervenções prioritárias para redução de risco.
• a sugestão de propostas estratégicas para a
erradicação dos riscos estudados no município ;
• Realização de audiência pública para
validação das propostas e pactuação das
responsabilidades
PMRR
MG Prefeitura de Belo Horizonte
PE Prefeitura de Cabo de Santo Agostinho
PE Prefeitura de Camaragibe
PE Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes
PE Prefeitura de Olinda
PE Prefeitura de Paulista
PE Prefeitura de Recife
PE Prefeitura de São Lourenço da Mata
RJ Prefeitura de Niterói
RJ Prefeitura de Petrópolis
RJ Prefeitura de Rio de Janeiro
RS Prefeitura de Caxias do Sul
PMRR
RS Prefeitura de Santa Maria
SC Prefeitura de Criciúma
SC Prefeitura de Florianópolis
SP Prefeitura de Campos do Jordão
SP Prefeitura de Embu
SP Prefeitura de Guarulhos
SP Prefeitura de Jacareí
SP Prefeitura de Santos
SP Prefeitura de São Paulo
AL Prefeitura de Maceió
BA Prefeitura de Ilhéus
CE Prefeitura de Fortaleza
PMRR
ES Prefeitura de Aracruz
ES Prefeitura de Serra
ES Prefeitura de Vitória
MG Prefeitura de Contagem
MG Prefeitura de Governador Valadares
MG Prefeitura de Juiz de Fora
MG Prefeitura de Mantena
MG Prefeitura de Muriaé
MG Prefeitura de Nova Lima
MG Prefeitura de Sabará
MG Prefeitura de Santos Dumont
PE Prefeitura de Igarassu
PMRR
PE Prefeitura de Ipojuca
RJ Prefeitura de Nova Friburgo
RJ Prefeitura de São Gonçalo
RJ Prefeitura de Teresópolis
RJ Prefeitura de Volta Redonda
RN Prefeitura de Natal
SC Prefeitura de Blumenau
SC Prefeitura de Jaraguá do Sul
SP Prefeitura de Caraguatatuba
SP Prefeitura de Cubatão
SP Prefeitura de Guarujá
SP Prefeitura de Itapecerica da Serra
PMRR
SP Prefeitura de Jandira
SP Prefeitura de Jundiaí
SP Prefeitura de Osasco
SP Prefeitura de São Bernardo do Campo
SP Prefeitura de São José dos Campos
SP Prefeitura de Suzano
SP Prefeitura de Taboão da Serra
ES Prefeitura de Viana
MG Prefeitura de Timóteo
PE Prefeitura de Ilha de Itamaracá
RJ Prefeitura de Belford Roxo

RJ Prefeitura de Mesquita
PMRR
• Itaquaquecetuba e Francisco Morato (SP) –
PMRR incluido no Plano Diretor
• Itaquaquecetuba (SP) - Abreu e Lima (PE) –
PMRR com recursos próprios
A gestão de riscos é um processo que
se inicia quando a sociedade, ou
parcela desta, adquire a percepção de
que as manifestações aparentes ou
efetivas de um processo adverso
existente em dado local num
determinado momento, podem
provocar conseqüências danosas
superiores ao admissível por esta
comunidade.
Gestão de riscos pode ser definida
como “um processo social complexo
que conduz ao planejamento e
aplicação de políticas, estratégias,
instrumentos e medidas orientadas a
impedir, reduzir, prever e controlar os
efeitos adversos de fenômenos
perigosos sobre a população, os bens
e serviços e o meio ambiente”
(CARDONA & LAVELL, s/d)
Práticas mais freqüentes de
gerenciamento de riscos

• Atendimento de emergências e socorro


pós-acidente.
• Estruturação em órgãos de proteção ou
defesa civil
ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS
PARA GERENCIAMENTO DE RISCOS
(UNDRO, 1991)

Identificação e análise de riscos (conhecimento


dos problemas);
Adoção de medidas de prevenção de acidentes e
redução de riscos;
Planejamento para situações de contingência e de
emergência;
Informação pública, capacitação e mobilização social
para autodefesa.
1. CONHECIMENTO DOS
RISCOS
2.Planejamento e implementação
de intervenções para redução dos
riscos identificados
Critérios adotados para a proposição e
análise de intervenções
• Aderência entre o processo geológico-
geotécnico atuante e a intervenção
adotada para estabilização e controle
• Combinação da intervenção geral e
setorial com a obra localizada
• Referência na cultura técnica de projetos
e obras acumulada pela prefeitura.
• Privilégio para intervenções de baixo
custo.
3. Monitoramento permanente e
prevenção de acidentes,
especialmente nos períodos
chuvosos
Monitoramento envolve a
fiscalização e o controle:
• de novas ocupações em locais suscetíveis a
risco;
• do adensamento das áreas de risco ocupadas;
• da execução de intervenções inadequadas
(cortes, aterros, fossas)
• de incidentes geradores de risco (vazamento de
tubulações, lançamento de entulhos, obstrução
de valas e drenagens, etc.)
• da evolução de situações de risco identificadas
4. Informação pública e
capacitação para prevenção e
autodefesa
Negligente •nada fazer e esperar que o problema se manifeste
•superestimação ou subestimação do risco
•avaliação equivocada das causas geradoras dos riscos.
•a única solução é a eliminação das ocupações subnormais

Reativa Medidas pontuais no tempo e no espaço, acionadas por ocorrência


ou por iminência de acidentes em períodos chuvosos.

Corretiva •Ação de defesa civil apenas nos períodos chuvosos.


•Obras de recuperação de estabilidade de encostas e de remoção de
moradias em situação de acidente iminente.

Preventiva Mapeamento e intervenções nas áreas de risco


Controle da ocupação.
Legislação restritiva de uso do solo.
Plano preventivo de defesa civil.
Proativa •Mapeamento e priorização de intervenções nas áreas de risco.
•Controle e indução planejada da ocupação urbana.
•Integração do gerenciamento de riscos à gestão do ambiente
urbano.
•Trabalho permanente com os núcleos de defesa civil.

TIPOLOGIA DE ABORDAGENS DOMINANTES DE GERENCIAMENTO DE RISCOS


DE ESCORREGAMEN-TOS NO BRASIL
Perfil exigido e dificuldades existentes entre os atores de

um gerenciamento integrado de riscos (GUSMAO,1995)


agente Perfil exigido
• Reconhecimento do problema e compromisso
político com seu enfrentamento.
Gestor público

• Compromisso com a transparência e com a


responsabilidade legal da gestão pública sobre os
riscos ambientais urbanos.
• Capacidade de interlocução com as camadas
populares.
• Prática da negociação apoiada em critérios de
cidadania.
Perfil exigido e dificuldades existentes entre os
atores de um gerenciamento integrado de riscos
agente Perfil exigido
• Coordenação integradora das políticas e das
ações executadas por diversos setores do
Gestor público

governo municipal ou por outras esferas do poder


público (estadual e federal).
Perfil exigido e dificuldades existentes entre os
atores de um gerenciamento integrado de riscos
agente Dificuldades
• Administração parcial da cidade, não
contemplando as áreas de ocupação informal das
Gestor público

periferias.
• Compromissos eleitorais; práticas clientelistas e
demora nas negociações coletivas em
contraposição à rapidez das decisões isoladas.
• Tomada de decisão com base em critérios
exclusivamente políticos em detrimento de
projetos técnicos desenvolvidos pela instituição.
Perfil exigido e dificuldades existentes entre os
atores de um gerenciamento integrado de riscos
agente Dificuldades
• Falta de conhecimento da problemática dos riscos
e das alternativas técnicas e institucionais para
Gestor público

seu enfrentamento.
• Negação em assumir a responsabilidade legal e
política da gestão da segurança ambiental urbana
de toda a cidade.
Perfil exigido e dificuldades existentes entre os
atores de um gerenciamento integrado de riscos
agente Perfil exigido

• Democracia interna e funções claramente


definidas
Instituição

• O servidor público deve estar a serviço do público


• Acesso fácil e desburocratizado da população a
informações e serviços
• Ações integradas e complementares entre os
órgãos e níveis de poder público
Perfil exigido e dificuldades existentes entre os
atores de um gerenciamento integrado de riscos
agente Dificuldades

• Excesso de hierarquia, níveis de decisão e


burocracia.
Instituição

• Falta de comunicação e identidade entre níveis de


função e órgãos municipais
• Baixos salários como justificativa para o
imobilismo e ineficácia
• Ações redundantes e muitas vezes conflitantes ou
antagônicas desenvolvidas por diferentes
instituições públicas ou por setores da mesma
instituição
Perfil exigido e dificuldades existentes entre os
atores de um gerenciamento integrado de riscos
agente Perfil exigido

• Qualificação para dar soluções técnica e


socialmente adequadas
• Trabalho em equipe interdisciplinar e intersetorial
técnicos

• Capacidade para oferecer respostas de curto e


médios prazos que possam intermediar projetos e
planos de longo prazo.
• Discussão do trabalho técnico com as
comunidades envolvidas, aceitando-as como
interlocutoras no planejamento de soluções e na
fiscalização da execução.
Perfil exigido e dificuldades existentes entre os
atores de um gerenciamento integrado de riscos
agente Dificuldades

• Formação técnica dirigida para dar soluções caras


e complicadas.
• Intervenções pontuais e localizadas, sem a
técnicos

integração com projetos espacial e temporalmente


mais amplos.
• Alienação em relação aos projetos e planos da
instituição.
• Valorização do conhecimento acadêmico e das
normas técnicas como verdades absolutas.
• Desprezo pelo conhecimento popular
Perfil exigido e dificuldades existentes entre os
atores de um gerenciamento integrado de riscos
agente Perfil exigido

• Organização em entidades comunitárias.


• Contrapartida de responsabilidades e deveres.
comunidade

• Compreensão do processo de participação como


um direito de cidadão
• Conhecimento da realidade ambiental do meio em
que vive e utilização deste conhecimento para a
melhoria da qualidade de vida de todos.
Perfil exigido e dificuldades existentes entre os
atores de um gerenciamento integrado de riscos
agente Dificuldades

• Luta política, quebrando a unidade dos pleitos.


• Falta de prática política como cidadãos.
comunidade

• Nível de carência da população, que acaba


valorizando apenas as ações imediatistas.
• Atrelamento a interesses políticos que podem ser
opostos aos da comunidade.

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