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A Crítica Feminista da Ciência e o Desafio da

Epistemologia Social – Kenneth J. Gergen p.48-67

UNEB- PGDR – Tecnologia da Informação e


Gestão do Conhecimento.

O Pensamento Feminista e a
Estrutura do Conhecimento
Mary Mc Canney Gergen- Ed.
Cap. 3
Não podemos falar acerca de “mulheres e
ciência” ou de “mulheres e conhecimento” sem
explorar os diferentes significados e práticas
acumuladas na vida de alguém que é uma
mulher numa singular intersecção histórica de
raça, classe e cultura. Sandra Harding
Prof.a Dra. Lelinana Santos de Sousa
Marisa Oliveira- Aluna Especial
Salvador-BA
Set. 2008
A Crítica Feminista da Ciência e o Desafio da
Epistemologia Social – Kenneth J. Gergen p.48-67

Objetivo do capítulo:
Questionar e entender como é conduzida a
ciência empírica através da análise da
produção do conhecimento feminista
contemporâneo

Ponto de partida:

“O conhecimento feminista cada vez mais


provoca deslocamentos. Oferece um desafio
radical para o sentido de identidade da
pessoa, para a sua visão das relações
.
humanas e concepção de sociedade e da
relação desta com a natureza”.
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Epistemologia Social – Kenneth J. Gergen p.48-67

Exemplo:
O Conhecimento
Tradicional é visto pelas
feministas como saturado
de perspectivas e valores
masculinos que serve a
esses interesses e sustenta
a dominação masculina.

“Estascríticas abrem a porta a um


profundo questionamento dos próprios
fundamentos da ciência empírica em si.¹”
(Harding S. 1986)
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Epistemologia Social – Kenneth J. Gergen p.48-67

MANUAL
Regras
Metodológic
as da
Ciência
Empírica
•Especificar os fenômenos a serem observaveis;
•Empregar procedimentos rigorosos de amostragem;
•Desenvolver dispositivos padronizados de medição;
•Controlar as variáveis relevantes;
•Por a prova as hipóteses através de testes dedutivos;
•Fornecer análises estatísticas
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Epistemologia Social – Kenneth J. Gergen p.48-67

1. As Feministas questionam as
premissas que estruturam a prória
lógica da investigação empiricista ¹(p. 50)

Uma vez que um investigador adotou uma dada


ontologia, esse sistema de orientação determina o
que é considerado como relevante; os dados não
podem corrigir ou falsificar a ontologia porque todos
aqueles que foram coletados dentro dessa
perspectiva só podem ser compreendidos em seus
termos.
Atacar o processo científico em função de sua pré-
estrutura preconceituosa da compreensão não é
meramente questionar o uso tradicional do método
científico, mas a adequação básica do próprio
método.
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Epistemologia Social – Kenneth J. Gergen p.48-67

Apesar das tentativas do empiricismo


de separar nitidamente fatos e
valores, parece ser impossível
alcançar a neutralidade em relação
aos últimos.

Na medida em que qualquer conjunto


de fenômenos observáveis está sujeito
a interpretações múltiplas, as regras
do método empírico não estabelecem
uma barreira contra o livre jogo de
valores na escolha de uma
interpretação em detrimento de outra.
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Epistemologia Social – Kenneth J. Gergen p.48-67

Exemplo:
A pesquisa psicológica já mostrou diversos casos
em que grupo de mulheres expostas às opiniões de
um grupo majoritário mudaram de opinião, em
proporção maior que os homens, no sentido da
opinião da maioria.

A conduta das mulheres podem ser descritas como


conformismo, indecisão, integração, cooperação,
etc. Porém, os próprios dados não indicam ao
investigador qual dessas características é a
“correta” ou “objetiva”.
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A crítica feminista mina a própria


tese de neutralidade em relação a
valores, tradicionalmente utilizada
para validar o procedimento
científico. (p.51)

Para muitas feministas a


concepção empiricista do
conhecimento é em si mesma uma
projeção da ideologia ou dos
valores masculinos.

Ao separar o sujeito do objeto, a


razão da emoção, o conhecimento
do contexto sócio-histórico, a
orientação empiricista mostra-se
incompatível com o bem-estar
humano.
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2. A Problemática da
Perspectiva Privilegiada

Ao expor a fragilidade das bases empiricistas, o


criticismo feminista também se coloca numa
posição vulnerável. Tal crítica implica a
possibilidade de um conjunto alternativo de
proposições “mistificadoras”. Em que bases
poderiam as feministas estabelecer leituras
corretas ou sem preconceito da natureza? (p52).
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Epistemologia Social – Kenneth J. Gergen p.48-67

Diversas linhas de
raciocínio vêm sendo
utilizadas para privilegiar
a perspectiva feminina.

Exemplo:
As cientistas mulheres abandonaram os
enganosos dualismos cartesianos de mente
versus corpo, razão versus emoção, e
substituíram a preocupação masculina com o
reducionismo e a linearidade por visões que
ressaltem o holismo e as interdependências
complexas.
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Gergen cita Harding que cujo argumento


parte desse contexto de perplexidade que
as epistemologias do ponto de vista
feminino se desenvolveram. Ela manifesta
preocupação na demonstração da
superioridade da perspectiva feminina em
relação à masculina. (p.52)
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3. Pluralidade de Pontos de Vista


Feministas

Harding raciocina que existem outros grupos


cujos direitos às vantagens epistemológicas,
pelos mesmos critérios empregados por
essas teóricas podem exceder os das
feministas que parece se beneficiar das
referidas análises.

Exemplo:
Mulheres ocidentais instruídas, de recursos
econômicos substanciais que participaram
sistematicamente das práticas de colonização que
subjugaram grandes setores do mundo africano- de
homens e mulheres.(p.53)
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Harding discute ainda o


fracionamento do âmbito
feminista: - socialistas,
humanistas seculares, radicais,
lésbicas, negras, existencialistas,
marxistas. A autora questiona:
Deve algum desses grupos receber
privilégios epistemológicos
especiais?(p.53).

Gergen se mostra inclinada a concordar com


Harding quanto as razões pragmáticas e traz a
citação dessa autora: Uma “única história
verdadeira” não pode ser contada a partir da
perspectiva feminista, mas muitas histórias parciais
são necessárias para se alcançar a transformação
social.
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4. Matriz Iluminista do Conceito de


Ciência Moderna
Gergen ressalta que não há grande desafio
aos pressupostos empiricistas tradicionais:
O conhecimento é a expressão de uma mente
individual, implicando a representação acurada do
mundo, de que as pessoas variam conforme o grau
em que dominam essa expressão e de que devem ser
garantidos privilégios especiais àqueles que a
exercem.
Todas essas hipótese fazem parte da matriz
iluminista, dentro da qual se moldou o conceito de
ciência moderna. Serviram também de justificativa
para as elaboradas hierarquias de poder e privilégio
que tão efetivamente suprimiram a voz feminina até
aqui. (p.54)
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Epistemologia Social – Kenneth J. Gergen p.48-67

A autora formula algumas


questões intrigantes (p.54):

1. As tentativas feministas de ciência sucessora¹


não ameaçam recapitular em boa medida a
mesma forma de justificativa e com isso
favorece o estabelecimento de hierarquias
alternativas?
2. O que irá impedir essas hierarquias
alternativas de se engajarem nas mesmas
táticas excludentes que diminuirão a voz de
todos aqueles que não tiverem acesso ao novo
conceito favorecido de conhecimento?
¹ Termo cunhado por Sandra Harding como sinônimo de
um projeto crítico e feminista para a ciência.
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3. Em que sentido essas hipóteses não se


prestam exatamente àquele tipo de estratégias
alienadoras e defensivas que foram
consideradas tipicamente masculinas? (p.54)

4. Keller não estava certo quando traçou um


paralelo entre o conceito de conhecimento,
poder social e dominação? Garantir o primeiro é
fazer um convite ao segundo e à terceira.
Segundo Harding a objetividade é maximizada não com a
exclusão de fatores sociais, da produção do conhecimento,
mas com o “começar” o processo de pesquisa a partir de
uma explícita localização social: a experiência vivida
daquelas pessoas que têm sido tradicionalmente excluídas
da produção do conhecimento.
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5. Articulação preliminar de um ponto de vista


epistemológico social.
Gergen considera que há certas linhas de
concordância em torno do qual um acordo
significativo possa ser alcançado através do
domínio pós-moderno, tanto feminista como de
outras ordens. Destaca 4 suposições: (p.57)
1) As reivindicações da ciência poderiam ser
consideradas forma de discurso. Como argumentou
uma série de pensadores feministas, as distinções
cartesianas tradicionais entre mente e corpo, sujeito
e objeto, são problemáticas. Apesar dos pontos de
partida diferentes, chegaram a conclusões
semelhantes diversos filósofos e analistas literários.
Nenhuma classe de pessoas, inclusive os cientistas,
armados de sofisticada tecnologia e procedimentos
estatísticos, podem reivindicar o direito a percepções
superiores do mundo. (p.58)
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2) O que existe por si mesmo não dita as


propriedades do discurso através das quais
dar-se-á a inteligibilidade (p.58).

Quando se invoca fatos para apoiar uma determinada


proposição, invariavelmente estes não são eventos
(ou coisas) em si mesmos, mas interpretações
descritivas de eventos. Pelo fato dos próprios eventos
não colocarem demandas essenciais em relação às
interpretações, eles não provêem apoio objetivo,
porém retórico, para a proposição teórica relevante
(p.59).
Conclui que os eventos reais só servem enquanto
evidência para se optar por uma determinada prática
discursiva. Assim o que conta como fato é
determinado não pelo que está alí, mas pela linha
particular de discurso interpretativo com o qual a
pessoa está comprometida. (p.60)
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3) Pelo fato do discurso ser inerentemente social,


podemos olhar para o processo social em busca de
uma compreensão de como se justificam as
reivindicações do conhecimento (p.61).
O discurso não é propriedade de indivíduos únicos -
átomos sociais isolados – mas uma propriedade do
intercambio social. As minhas palavras não fazem
sentido algum enquanto você não lhes atribuir um
status de significação (p.62).
A geração do conhecimento é, portanto, fruto da
conexão social ao invés da separação. É através da
harmonia na associação humana que a realidade,
enquanto interpretação lingüística, passa a existir, a
partir do nada. A ciência se torna um empreendimento
inerentemente social, onde a valorização das
reivindicações de conhecimento depende dos
processos comunitários mais que a verossimilhança.
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4) Porque as reivindicações da ciência são


constitutivas da vida social, deviam ser
adequadamente abertas à avaliação de todo o
espectro de comunidades discursivas (p.63).

Criado no interior das comunidades acadêmicas, o


discurso acadêmico raramente permanece em casa.
Ou seja, tal discurso é injetado na cultura ambiente.

Os cientistas não funcionam como autômatos


desapaixonados, mergulhados nos rigores dos
espelhos que seguram para refletir a realidade. Ao
contrário, na própria formulação dos problemas, na
opção por possíveis soluções e na tentativa de avaliar
uma solução em detrimento de outra, já estão
penetrando na vida da cultura (p.64).
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Na medida em que os frutos da academia


vêm a ser saboreados por números cada
vez maiores de pessoas, aumenta também
o potencial de transformação cultural. A
preocupação feminista com a distância
entre trabalho conceitual abstrato e a
práxis social recebe, assim, uma resposta;
pois enquanto esse trabalho teórico puder
ser significativamente comunicado, ele
constitui uma forma de práxis (p.64).
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Simone de Beauvoir
O Segundo Sexo (1949), livro da
feminista francesa bagunçou os
alicerces da sociedade machista.

A mulher sempre se coloca numa posição de vítima.


Isso não era para mim. Cheguei à conclusão de que,
vá para onde for, o resto do mundo desloca-se
comigo. É essa idéia que evita que eu sinta qualquer
pena de mim. Horroriza-me encarar o mundo como
uma simples mulher. Odeio a pureza. Sou de carne e
osso. Assim, escrevendo uma obra tirada de minha
história, eu me criaria a mim mesma de novo e
justificaria minha existência.[...]Interessava-me,
portanto, por mim e pelos outros; não queria
renunciar ao universal: tornei-me humana.
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Epistemologia Social – Kenneth J. Gergen p.48-67

¹Epistemologias Feministas
Investigar é uma das maneiras de conhecer ou
entender o mundo. O modo de olhar o mundo –
paradigma – é composto por assunções filosóficas
que guiam e direcionam o pensamento e a ação.
Três questões ajudam a definir paradigma: (1) a
questão ontológica- qual é a natureza da realidade?,
(2) a questão epistemológica- qual é a natureza do
conhecimento e qual a relação entre investigador e o
que há a conhecer?, e (3) a questão metodológica-
como o investigador pretende obter o conhecimento
desejado.
Silva, P. et ali. Acerca do debate metodológico da investigação
feminina. Rev. Porto Cien Desp. V.3 p.358-370.

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